domingo, 11 de agosto de 2013

38 apeadeiros paragrafados a dois numa viagem – draCmática - pela crise a caminho de um sem-espectáculo ou de um não-teatro


38 Apeadeiros 1- Álvaro, mano


38 não é igual a sete – se fosse sorte seria - diz alguém que ganha voz a gritar:

trinta e oito vezes feito num oito = sujeito mexilhão, não sujeito, marginal, estar por baixo, estar fodido, riscado do mapa,o mapa evapora-se: o parlamente é o maior centro de negócios do país disse um exparlamentar,país orçamental: contabilidade do obrigatoriamente rendível, dinheiros públicos lucros privados, swaps, especulação legalíssima, etc.,
e tu fazes o quê?
uma coisa inútil, dás que pensar e devias vender estupidez,
não serves para nada – quanto vale pensar fora de contas, fazer de conta? Nada.
Quanto vale a beleza de um anacronismo emergindo, a Vénus de Milo, a verdadeira, emigrando da tampa da lata de bolachas em direcção à tua cama ou campa, de braço recomposto?

Nada.

Ou que vale a erupção verbal incontinente de um criador palavroso em noite febril que se possa chamar Pessoa e esteja de Chuva Oblíqua?

Um empregado da política terá paladar e que será, distingue o azul do mar do azul da nota?

Um Tupinambá seria capaz de mastigar a carne corrupta de um blococentralista? Ubaldo, o de Itaparica, conheceu quem conheceu carne holandesa sabendo a leitãozinho na arte e ciência de roubar galinha, – percebe-se, são as vaquinhas do país dos diques sem o sol do sul, é mesmo branquinha a carne, carne pálida diria Brecht (nada a ver com os cara pálidas dos sioux).

A que saberá uma Albuquerque sem os swaps, ou um Passos, lábio contraído na imobilidade nervosa facial (rictus da seriedade posta – riem preso!! um riso amarelo aramado de maxilar bonifrate), rigidez mesmo, carne dura? A que saberá mesmo com ungido tempero nos excelsos Jerónimos pátrios? Restar-lhe-á coelho na humanidade perdida?

As pessoas são números e quantos mais cartões pessoas mais pessoas números. O número nome será o NIB ou o NIF ou o MB?

És por vezes NIB – quem tem NIB tem tudo – e serás sempre NIF – o BI perdeu importância – tens ainda o cartão do SNS, coitadinho, está desprovido de carga, usa-lo e pedem-te logo o outro, o MB, a taxa moderadora já nem se lembra da moderação. O NIF entretanto persegue-te mais que a videovigilância na baixa de Londres – os British gostam mais de segurança que de liberdade, será? -, está por todo o lado, no interior oculto do papel higiénico, na propina repropinante, no adubo vitalista, na entrada do dentista, no elevador de Santa Justa, na puta que os pariu e no resto da família, etc.

Imposto o imposto é-nos imposto como renda do Estado que impõe o não estado social: o estado empresa é mesmo assim uma pequena multinacional, apesar de algumas multinacionais terem maior PIB e melhores Forças Armadas, de um ponto de vista TÉCNICO, claro, NEUTRO, claro, NEUTRO escuro claro.

Álvaro, meu caro Zúniga (não consigo pôr o trema a cavalo no N, tens de me perdoar):

como calcular estes 38% de liquidez dramática ou melhor dracmática e como suportar o grego que há em cada um de nós dracmaticamente lixado?

Estaremos mesmo em vias de extinção?

Mas quem são estes alienígenas que se parecem tanto com o que mais vulgar é pura violência e brutidade, incultura?

Só posso concluir: Chegaram os bárbaros

XXXXXXXXXX

NIF – Sou omnipresente.

NIB – Sem mim a tua omnipresença não vale nada;

BI – De que estão a falar?

NIF – És arcaico BI. A minha omnipresença é operacionalizada digitalmente.

NIB – E a minha? E querendo jorra cocaína num Espírito Santo Banco. Cartão é tudo, abrem-se todos os sésamos, é sujeito e BI é número de presidiário.

MB – É favor retirar o dinheiro na ranhura de baixo, ou, se preferir, pode enfiá-lo na ranhura de cima. Somos a sua ranhura preferida, não esqueça MB.

XXXXX

BPN BES MILENIUM BPN CITIGRUPO SANTANDER BP BPN MILENIUM BARCLAYS BPN CITIGRUPO SWAPS BPN BP BPN MILENIUM BNU O REI VAI NU BPN BP SLN BPN SLN BP BPN SLN DIAS BPN OLIVEIRA BPN CAVACO

38 Apeadeiros 2 -  Queridíssimo Fernando, Mano,


Difícil corresponder a tanta correspondência.

Não sei se foi lendo-te (ouvindo-te, quase) ou por outras razões que me veio à cabeça o filme Avatar. Não sei se o terás visto. Mas caso não, vale a pena. Realmente e sem sarcasmos. O filme – que à primeira leitura parece ser uma simples megaprodução de super-entretenimento para uso e beneficio ultra-comercial –, é, lá no fundo, uma verdadeira alegoria de si mesmo: trata de uma espécie – os humanos – que dispõem de meios colossais e uma tecnologia imbatível que, evidentemente, utilizam para destruir tudo o resto. O filme faz com que, ao sair da sala de cinema, a primeira coisa que um tipo se pergunte seja como é possível investir tanto dinheiro e o tempo e esforço de tantíssima gente para produzir uma merda semelhante, e aí, magicamente é que se produz a tal alegoria: o filme é o filme que conta a história de si mesmo! Não se trata de uma ideia canibal, trata-se de uma ideia, não, não uma ideia, de uma coisa, sim, trata-se de uma coisa autofágica. Trata-se de que – como dizia a imitação da Margaret Tatcher dos bonecos que faziam a contrainformação inglesa a princípios dos anos 80 –, caso tenham fome, aqueles que não tem meios, se comam a si próprios. Avatar, por outro lado, é um que é um que já não é o mesmo um que um é. Isso também é matemática. É um um que não quer dizer nada. Ou ao menos não quer significar o mesmo que significa o primeiro, e, por conseguinte, diga o que disser, não significa nada. É, no máximo uma imagem. Que pode chegar a ser a imagem da silhueta duma pessoa no momento de ser atingida com sucesso por um míssil disparado por um drone. No Iémen, digamos, por exemplo. E agora, para dar outro exemplo, digamos em Portugal. Porque não. Porque não a mim. Ou a ti. Ou ao leitor que se auto-invite a ler este exótico diálogo...

Desculpa o autismo de ter saído do caminho pelas ramas do assunto.

Um abraço,

Álvaro.

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